Ontem foi comemorado o
Dia do Meio Ambiente. Nessa data, a questão ambiental, uma das pautas
prediletas dos políticos, dos ambientalistas e da mídia nos últimos anos, é
lembrada com ênfase em um discurso pela salvação do planeta, segundo o qual, se
cada um fizer a sua parte, estará contribuindo para um mundo mais sustentável,
do ponto de vista socioambiental. É o caso do já famoso clichê pensar global,
agir local (mas quem vai pensar o global?). Assim, nos espaços formais de
educação, em especial na escola, é comum coordenadores e professores se unirem
em um esforço pela preservação do meio ambiente através de atividades, gincanas
e trabalhos voltados para a temática ambiental. Esforço esse, todavia, que
costuma durar no máximo uma semana, aquela na qual se comemora o Dia do Meio
Ambiente.
Por falta de
conhecimento, oportunismo ou simplesmente ativismo, atividades como gincanas em
que os grupos de alunos têm que levar à escola latinhas de alumínio para
reciclagem, são estimuladas pelas instituições e pelos professores. Ações desse
tipo, na verdade, estão contribuindo para aumentar o consumo, uma vez que os
alunos tendem a comprar mais refrigerantes para garantir mais latas para seu
grupo, agravando assim a questão ambiental, no que tange aos gastos de matéria
e energia para produzir tais latas e mesmo reciclá-las.
Inúmeros outros exemplos
de distorções, na maioria das vezes bem intencionadas, poderiam ser citados
como, por exemplo, a disponibilização de recipientes coloridos para a coleta
seletiva. Nesse caso, o lixo é alocado em recipientes próprios (plástico,
vidro, metal e papel), mas, quando é recolhido, mistura-se ao lixo comum e
acaba no aterro sanitário, desestimulando aqueles observadores mais atentos.
A grande questão que
envolve o meio ambiente é muito mais complexa e conflitiva do que a simples
mudança de atitude individual. Ela passa por uma alteração profunda no modelo
de desenvolvimento vigente, que é, ele mesmo, produtivista, consumista,
individualista e descartável. É necessária uma nova ética societária, na qual a
redução do consumo – que implica numa redução das margens de lucros dos
capitalistas – e a valorização dos aspectos morais que visem à coletividade
sejam prioridades em detrimento de uma sociedade na qual somos vistos pelo que
temos, e não pelo que somos. Assim, obviamente, uma data comemorativa do meio
ambiente tem seu valor intrínseco, mas não deve ser apropriada de maneira tão
fugaz e superficial, como tem ocorrido.
Nós todos somos parte do
meio ambiente, que não é algo exterior a nós, de forma que, como seres dotados
de racionalidade, somos os principais responsáveis pela sua conservação e
preservação. Os avanços tecnológicos que permitiram à humanidade modificar tão
velozmente a face do planeta são os mesmos que, a partir de uma mudança
paradigmática nas sociedades de todo o mundo, poderão nos auxiliar na redução
dos impactos negativos e na preservação dos remanescentes naturais – estes
também já bastante modificados. Para que, em um futuro próximo, não tenhamos
que celebrar o dia do meio ambiente, devemos ter a consciência de que todos os
dias do ano são importantes para cuidarmos do planeta que nos concedeu a vida e
está nos concedendo.
Talvez, essa concessão seja uma das últimas chances de
perpetuarmos nossa existência e a de milhões de outras espécies que, como nós,
vivem e, portanto, têm direito à vida.
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