terça-feira

Muitos sinais de alerta

É fato. Tudo, de alguma maneira, se relaciona. Qualquer gesto pode ter efeitos impensáveis. O aumento do dióxido de carbono na atmosfera, por exemplo, pode afetar um dos principais produtos brasileiros vendidos ao exterior: a carne bovina. Resultados iniciais de estudo que integra o Climapest, projeto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre o impacto do efeito estufa na agricultura, apontam para modificações na qualidade da pastagem do gado.

A pesquisa foi apresentada no encontro sobre o impacto do efeito estufa Greenhouse Gases & Animal Agriculture Conference, realizado em Dublin, na Irlanda.

Baseado na quantidade imaginável e presumível de dióxido de carbono no meio ambiente em 30 anos, os pesquisadores brasileiros do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP) criaram um ambiente com alto teor desse gás e constataram que, em tal situação, a gramínea brachiaria, utilizada largamente na alimentação do gado no país, cresce com mais força. E com um porém: fica com quantidade menor de nutrientes.

“Com mais fibras indigeríveis, em vez de se ter mais produção de carne - porque o boi vai ter mais pasto para comer, nós poderemos ter um problema porque a queda na qualidade dessa comida levará o pecuarista a ter de investir mais”, afirmou o coordenador da pesquisa, Adibe Luiz Abdalla, professor do Cena, à reportagem da Agência Brasil.
Um campo experimental da Embrapa, em Jaguariúna, na região de Campinas, a cerca de 125 quilômetros da capital paulista, serviu de quartel general para os testes e análises. Nesse local um ambiente que se imagina como realidade em 2040 foi cuidadosamente criado. Nele foram instalados 12 círculos de 10 metros quadrados nos quais o dióxido de carbono foi colocado. Resultado: houve a ampliação da quantidade encontrada atualmente na atmosfera de algo em torno de 370 a 390 para cerca de 590 a 600 partes por milhão (ppm).

O gás carbônico tem o papel de auxiliar no desenvolvimento das plantas por meio da fotossíntese. O professor Adibe estima que com mais fotossíntese haverá um aumento da biomassa. “Esse aumento da produção de biomassa no caso de forragens é interessante porque vai produzir mais e mais capim, só que esse capim pelas informações que a gente está obtendo até agora é de pior qualidade, tem mais fibra, mais componentes indigeríveis”, disse.

Isso poderia comprometer, igualmente, conforme o pesquisador, outras culturas como as de algodão, arroz, feijão, milho e trigo. Ainda, contudo, não se pode saber ao certo o real impacto do efeito estufa sobre essas culturas.
Agência USP.