A crise internacional tem desviado o foco dos Estados, inclusive nos países desenvolvidos, de questões ligadas à poluição, mudanças climáticas e sustentabilidade. Assim, tornam-se mais importantes as iniciativas da sociedade na viabilização de um mundo economicamente próspero, socialmente justo e ambientalmente saudável. Estes princípios da triple botton line, no contexto do capitalismo democrático, têm nas empresas o seu grande bastião.
O Brasil, cuja liderança é ascendente no tocante aos temas de interesse multilateral, já avançou alguns passos no âmbito dos compromissos das empresas e da sociedade. O melhor exemplo disso é a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, instituída por lei, que prevê, dentre outros itens, a logística reserva, a cargo dos próprios setores produtivos. Isso significa que fabricantes/importadores, distribuidores e varejistas terão de se unir para tirar do meio ambiente os resíduos e embalagens descartáveis dos produtos que fabricam e comercializam.
Esse imenso trabalho irá somar-se ao aumento da reciclagem e à obrigatória erradicação dos lixões, a partir de 2014, na promessa de imenso ganho ambiental para as cidades. Nesse processo, que envolve praticamente todas as cadeias produtivas, há amplo espaço para a inclusão social, em especial por meio das cooperativas de catadores, e para a participação da comunidade, cuja missão será sempre exponencial, tanto contribuindo para a logística reversa, quanto para o sucesso da coleta seletiva do lixo.
Um exemplo do engajamento do universo produtivo no enfrentamento dos desafios da sustentabilidade encontra-se na indústria têxtil paulista. O Sinditêxtil-SP, que a representa, acaba de lançar o Projeto “Retalho Fashion”, que organizará o descarte e a coleta de retalhos e sua venda a indústrias recicladoras. Também serão capacitadas pessoas pelo Senai para a coleta e seleção do material, com geração de emprego e renda. Ou seja, uma resposta precisa e antecipada à Política Nacional de Resíduos Sólidos e que transcende ao marco legal, já que o setor não está incluído entre os obrigados à prática da logística reversa.
Em 2011, o Brasil importou 13,47 mil toneladas de trapos, ao valor de US$ 13 milhões. Contudo, somente no Bom Retiro, em São Paulo, são geradas 6 toneladas diárias de resíduos têxteis. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de algodão e o quinto maior produtor têxtil do planeta, gerando aproximadamente 170 mil toneladas mensais de resíduos. Ora, não podemos continuar importando o que jogamos no lixo. Daí a pertinência do novo programa.
O Sinditêxtil-SP, responsável pela edição do Guia de Produção Mais Limpa, também apresentou àCetesb reformas no regimento e na representatividade na Câmara Ambiental, tornando-a mais eficaz e democrática. O setor têxtil investe R$ 2 bilhões por ano na produção, e boa parte desses aportes destina-se ao desenvolvimento de novas tecnologias ambientais. A entidade, cujas empresas filiadas são as que mais aplicam recursos em sustentabilidade, preocupa-se, ainda, com o primeiro emprego dos jovens e aabsorção de trabalhadores com baixo nível escolar.
Ademais, as indústrias têxteis paulistas tratam 100% seus efluentes, reutilizam a mesma água, aproveitam seus próprios resíduos para gerar energia, utilizam corantes semanilinas azoicas (que podem provocar alergias e afetar pacientes de asma e bronquite), utilizam fios de pet reciclado e fibras alternativas como de cana-de-açúcar e pneu reciclado. Ou seja, a atividade está se tornando protagonista da moda sustentável.
Como se observa, os setores produtivos brasileiros têm respaldado a liderança crescente do País nas negociações multilaterais relativas à sustentabilidade. Se as nações desenvolvidas e algumas das emergentes estão despreocupadas com o Planeta, vamos dar o exemplo e cuidar muito bem de nosso quintal!
Por: Alfredo Bonduki.
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