A Ciência Econômica “criou” um tipo de crescimento
baseado no consumo destrutivo da natureza e, como resultado, nos entregou um
“produto final” chamado aquecimento global - o sintoma mais claro da crise
ambiental, resultado de um processo crescente de degradação entrópica da
natureza (de matéria e energia) gerada pelo processo de produção industrial que
destrói os ecossistemas produzindo emissões crescentes de gases de efeito
estufa (GEE).
Atrelado a isso, tem-se que o processo econômico
produz calor pelo consumo de natureza, que se degrada em calor tal qual
descreve a lei da entropia. Assim, uma economia que entra acelerando na rota do
crescimento contínuo produz mais calor que é aprisionado pelo efeito estufa,
aquecendo a atmosfera, provocando na ponta final catástrofes ecológicas e a
destruição socioambiental.
Estudos realizados mostram que nos últimos 160 anos
a temperatura média da Terra sofreu uma elevação de 0,5ºC e, se persistir a atual
taxa de poluição atmosférica (no mundo, a cada minuto, dez mil toneladas de
dióxido de carbono são lançadas na atmosfera), prevê-se que entre os anos 2025
a 2050 a temperatura sofrerá um aumento de 2,5 a 5,5°C. As principais
consequências seriam a alteração das paisagens vegetais, que caracterizam as
diferentes regiões terrestres, e o derretimento das massas de gelo, provocando
a elevação do nível do mar e o desaparecimento de inúmeras cidades e regiões
litorâneas. Na Antártida, cerca de três mil quilômetros quadrados de geleiras
viraram água entre 1998 e 1999. Dezenas de ilhas da Oceania, entre elas Fiji,
Nauru, Tuvalu e Vanuatu, correm o risco de submergir com o aumento do nível dos
oceanos. No Recife, capital de Pernambuco, o contorno da praia está encolhendo
ano a ano.
O fato real é que para “custear” o crescimento
econômico promove-se a destruição ecológica. Para fazer a economia se expandir,
mina-se as bases de sustentabilidade destruindo os frágeis equilíbrios
ecológicos dos quais depende a conservação dos ecossistemas e da própria vida.
Isso explica o fato de a ciência econômica “dominar” o mundo através do
automatismo do mercado, tratando a natureza como mero objeto de trabalho.
Lamentavelmente, o planeta não “gira” regido pelas
leis do universo e da natureza, mas pelas ordens impostas no mercado global.
Isso resulta que estamos submetidos a uma racionalidade de um poder
concentrador da riqueza, gerador de desigualdades e insustentabilidade.
A economia neoclássica (a economia tradicional) não
faz “força” para entender que a degradação ambiental não se deve a causas
naturais; sua existência está relacionada às ações antrópicas. Não obstante,
como bem apontou o economista mexicano Enrique Leff, “os tomadores de decisões
continuam dando mais importância aos imperativos do crescimento econômico e à
estabilidade macroeconômica nas políticas de desenvolvimento sustentável que
aos estudos prospectivos sobre o risco ecológico e o desencadeamento do
aquecimento global”.
Essa economia neoclássica não pode desconsiderar um
fato primordial: a economia se alimenta da natureza; o processo econômico ao se
“alimentar” de matéria e energia transforma esses recursos em calor,
respeitando assim a segunda lei da termodinâmica (entropia). Com o avanço do
processo econômico avança-se junto à concentração de GEE.
Até antes da Revolução Industrial essa concentração
de gases de efeito estufa na atmosfera manteve-se abaixo dos 280 ppm
(partículas por milhão). Atualmente, os níveis de CO2 na atmosfera equivalem a
430 ppm. O otimismo fica por conta do seguinte: se forem tomadas medidas a
tempo, em 2050 poderá ocorrer um equilíbrio entre 450 e 550 ppm.
Até chegarmos lá, cabe pensar e repensar seriamente
em “refundar” a economia sobre suas bases ecológicas ajustando os “mecanismos” da
economia às leis da termodinâmica, fazendo com que a economia neoclássica deixe
de negar a contribuição dos processos ecológicos para a produção e passe a
“entender” definitivamente que o crescimento não é a solução, mas sim o
problema.
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