Tudo está relacionado. Veja. O
aumento do dióxido de carbono na atmosfera pode afetar um dos principais
produtos brasileiros vendidos ao exterior: a carne bovina. Resultados iniciais
de estudo que integra o Climapest, projeto da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) sobre o impacto do efeito estufa na agricultura, apontam
para modificações na qualidade da pastagem do gado.
A pesquisa foi apresentada no
encontro sobre o impacto do efeito estufa Greenhouse Gases & Animal
Agriculture Conference, em Dublin, na Irlanda, no fim do mês de junho.
Baseados na quantidade
imaginável e presumível de dióxido de carbono no meio ambiente em 30 anos, os
pesquisadores brasileiros do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da
Universidade de São Paulo (USP) criaram um ambiente com alto teor desse gás e
constataram que, em tal situação, a Gramínea brachiaria, utilizada largamente
na alimentação do gado no país, cresce com mais força. E com um porém: fica com
quantidade menor de nutrientes.
“Com mais fibras indigeríveis,
em vez de se ter mais produção de carne - porque o boi vai ter mais pasto para
comer, nós poderemos ter um problema porque a queda na qualidade dessa comida levará
o pecuarista a ter de investir mais”, afirmou o coordenador da pesquisa Adibe
Luiz Abdalla, professor do Cena, à reportagem da Agência Brasil.
Um campo experimental da
Embrapa, em Jaguariúna, na região de Campinas, a cerca de 125 quilômetros da
capital paulista, serviu de quartel-general para os testes e análises. Nesse
local um ambiente que se imagina como realidade em 2040 foi cuidadosamente
criado. Nele foram instalados 12 círculos de dez metros quadrados nos quais o
dióxido de carbono foi colocado. Resultado: houve a ampliação da quantidade
encontrada atualmente na atmosfera de algo em torno de 370 a 390 para cerca de
590 a 600 partes por milhão (ppm).
O gás carbônico tem o papel de
auxiliar no desenvolvimento das plantas por meio da fotossíntese. O professor
Adibe estima que com mais fotossíntese haverá um aumento da biomassa. “Esse
aumento da produção de biomassa no caso de forragens é interessante porque vai
produzir mais e mais capim, só que esse capim pelas informações que a gente
está obtendo até agora é de pior qualidade, tem mais fibra, mais componentes
indigeríveis”, disse.
Isso poderia comprometer,
igualmente, conforme o pesquisador, outras culturas como as de algodão, arroz,
feijão, milho e trigo. Ainda, contudo, não se pode saber ao certo o real
impacto do efeito estufa sobre essas culturas.
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