A cota de recursos naturais que
a natureza poderia oferecer em 2013 se esgotou na última semana, quando foi
assinalado o Dia da Sobrecarga da Terra, marco anual de quando o consumo humano
ultrapassa a capacidade de renovação do planeta. O cálculo foi divulgado pela
Global Footprint Network (Rede Global da Pegada Ecológica), organização não
governamental (ONG) parceira da rede WWF.
O levantamento compara a demanda
sobre os recursos naturais empregados na produção de alimentos e o uso de
matérias-primas com a capacidade da natureza de regeneração e de reciclagem dos
resíduos, a chamada pegada ecológica (medida que contabiliza o impacto
ambiental do homem sobre esses recursos). Em menos de oito meses, o consumo
global exauriu tudo o que a natureza consegue repor em um ano e, entre setembro
e dezembro, o planeta vai operar no vermelho, o que causa danos ao meio
ambiente.
De acordo com a Global Footprint
Network, à medida que se aumenta o consumo, cresce o débito ecológico,
traduzido em redução de florestas, perda da biodiversidade, escassez de
alimentos, diminuição da produtividade do solo e o acúmulo de gás carbônico na
atmosfera. Essa sobrecarga acelera as mudanças climáticas e tem reflexos na
economia.
Segundo os cálculos dessa
contabilidade ambiental, a Terra está entrando “no vermelho da conta bancária
da natureza” cada vez mais cedo. No ano passado, o Dia da Sobrecarga ocorreu em
22 de agosto. Em 2011, em 27 de setembro.
Para o diretor executivo da
Conservação Internacional, André Guimarães, a humanidade vai pagar a conta
desse consumo excessivo na forma de perda de qualidade de vida, de mais pobreza
e doenças, caso não mude esse quadro. “Esse ritmo de consumo no longo prazo vai
culminar na exaustão dos recursos naturais. Estamos colocando nossa qualidade
de vida e nosso futuro em risco. Se consumirmos em excesso a natureza, em algum
momento vamos ter que pagar essa conta na forma de poluição, doenças, água
menos disponível para nosso desenvolvimento e nosso uso, pobreza e falta de
alimentos”, disse Guimarães.
Para o ambientalista, o desafio
para as nações é achar uma maneira de se desenvolver reduzindo a demanda pelo
capital natural. “Assim conseguimos fechar a equação de meio ambiente
preservado e economia sustentável”.
Segundo pesquisas da Global
Footprint Network, os atuais padrões de consumo médio da humanidade demandam
uma área de um planeta e meio para sustentá-los. As projeções indicam que se o
estilo de vida continuar no ritmo atual, o homem precisará de duas Terras antes
de 2050.
Estudos da ONG internacional
mostram que, no início da década de 1960, a humanidade empregou somente cerca
de dois terços dos recursos ecológicos disponíveis no planeta. Esse panorama
começou a mudar na década seguinte, quando o aumento das emissões de gás
carbônico e a demanda humana por recursos naturais passaram a exceder a
capacidade de produção renovável do planeta.
Atualmente, mais de 80% da
população mundial vivem em países que usam mais recursos do que seus próprios
ecossistemas conseguem renovar. Os países devedores ecológicos já esgotaram
seus próprios recursos e têm de importá-los. No levantamento da Global
Footprint Network, os japoneses consomem 7,1 vezes mais do que têm e seriam
necessárias quatro Itálias para abastecer os italianos.
Nesse panorama traçado pela
Global Footprint Network, o Brasil aparece ao lado das nações que ainda são
credoras ambientais, com reservas naturais abundantes. Esse quadro, porém, está
mudando. O presidente da ONG, Mathis Wackernagel, lembra que o país tem uma
grande riqueza natural que está sob pressão devido ao aumento populacional e
aos padrões de consumo. “O Brasil precisa reconhecer sua riqueza e como pode
usá-la sem gastá-la. O capital natural vai se tornar cada vez mais importante
em um mundo com restrições de recursos”, disse Mathis, que enfatiza a
importância de se investir em energia solar e eólica.
Segundo o diretor executivo da
Conservação Internacional, o Brasil ainda tem abundância de capital natural e
espaço para crescer. “Os países desenvolvidos já ultrapassaram o limite de consumo
de matérias-primas naturais. Se todos os habitantes da Terra tivessem o mesmo
padrão de consumo dos norte-americanos, nós íamos precisar de quase cinco
planetas para dar conta das demandas da população. O padrão de consumo dos
países desenvolvidos desorganiza essa balança e o Brasil está na posição
intermediária caminhando a passos largos para ser um alto consumidor de capital
natural”, declarou André Guimarães.
Para ambientalistas, a sociedade
precisa repensar seu estilo de vida. Nesse contexto, dizem, a educação e a
informação são instrumentos importantes para uma mudança de valores. De acordo
com a secretária-geral do WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de Brito, cidadãos e
governos têm papel fundamental na redução dos impactos do consumo sobre os recursos
naturais. “Políticas públicas voltadas para esse fim, como a oferta de um
transporte público de qualidade e menos poluente, construção de ciclovias e o
estímulo ao consumo responsável são essenciais para reduzir a pegada
ecológica”, disse Maria Cecília.
Ela lembra que as pessoas podem
fazer sua parte. Reduzir o desperdício de água e energia, o consumo de carne
bovina e de alimentos altamente processados, usar mais transporte coletivo e
adquirir produtos certificados são algumas das atitudes recomendadas.
“É importante que as pessoas se
lembrem de que qualquer desperdício de energia, por menor que pareça, está
sendo feito às custas do planeta ao gastar mais combustível fóssil. Podemos
fazer nossas escolhas lembrando que a Terra é finita, como é a nossa conta no
banco. A gente só tem esse planeta, por que não cuidar dele?”, ressaltou a
secretária-geral do WWF-Brasil.
Fonte Agência Brasil
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