quinta-feira

O papel das florestas na vazão dos rios


A relação floresta/infiltração reduz as enxurradas nos períodos chuvosos
Geralmente, no período chuvoso, as pessoas ficam temerosas com inundações provocadas pela grande vazão dos rios. Já durante a estiagem, a preocupação é com a escassez de água, que reduz a disponibilidade de captação para abastecimento doméstico, industrial e irrigação. Nessas ocasiões costuma-se lembrar da importância das florestas e dos riscos gerados pelo desmatamento.

Embora a principal responsável pela presença ou ausência de água nos rios seja a própria chuva, pela sua precipitação ou não, as florestas desempenham importante papel no regime de vazão, tanto nos pequenos riachos, quanto nos grandes rios.

Isto se deve a vários fatores, mas, principalmente, a dois: infiltração e escoamento superficial da água. A formação arbórea recebe a água das chuvas e facilita a sua infiltração no solo, que a armazena no lençol freático, para depois liberá-la lentamente nas nascentes e margens dos cursos de água. Sem a floresta, a água cai direto no solo e escoa pela superfície, em enxurrada, arrastando terra e provocando enchentes.

Esta é a regra, embora não possa se aplicar inteiramente em eventos climáticos extremos, como de chuvas intensas por vários dias ou secas prolongadas.

Assim, a relação floresta/infiltração reduz as enxurradas nos períodos chuvosos e possibilita disponibilidade hídrica durante as estiagens. Já a relação desmatamento/escoamento superficial provoca, respectivamente, picos de cheias e falta de água. Em outras palavras, a floresta é uma regularizadora do regime de vazões, amortecendo os picos para cima e para baixo, e em conseqüência, reduzindo os riscos de inundação e de escassez de água.

Um estudo hidrológico realizado de junho a outubro de 2010, na bacia hidrográfica do rio Natuba, afluente do rio Tapacurá, comparou a vazão de três riachos (convertida em vazão específica, correspondente a litros/segundo/Km2) sob o mesmo regime de chuvas, cujas microbacias de drenagem apresentam distintos usos de solo.

Durante as chuvas, a vazão do riacho que possui a sua área de drenagem usada integralmente para agricultura de ciclo curto e pasto, foi até sete vezes superior a do riacho cuja microbacia é coberta por floresta nativa. Intermediariamente se comportou a microbacia de uso misto, com capoeiras em regeneração e agricultura.

Por outro lado, quando da suspensão das chuvas, a vazão do riacho com cobertura florestal manteve-se sempre superior à do riacho com agricultura, atenuando assim os picos de baixa vazão.

Isto significa que a floresta e o seu solo funcionaram como uma esponja, retendo a água durante os picos de precipitação, para liberá-la em seguida, cumprindo um importante papel de regularização de vazões.

O trabalho de pesquisa, orientado por mim, foi desenvolvido por Felipe Alcântara para a conclusão do Mestrado em Engenharia Civil, na área de Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da UFPE.

Esta reflexão é particularmente oportuna quando se têm em pauta as alterações no Código Florestal, sendo importante garantir as áreas de recarga de aqüíferos e de proteção das margens de cursos de água e nascentes, com a presença de formações florestais.
Por Ricardo Braga.

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